Entrevista Rafael Bion

Ele tem 36 anos e várias experiências que enfrentam a resistência humana. São diversas Montanhas encaradas e vencidas com um só objetivo: a busca pela paz. A paixão pelas escaladas o fez um profissional dos ares e dos picos.

Rafael Bion, Guia e Condutor Ambiental, é o personagem da Entrevista de Domingo. E nela ele conta as suas experiências no Brasil afora que começaram em 1996, ao subir o Morro do Cambirela, aos 13 de idade. Confira.

1- Como surgiu essa paixão pelo montanhismo?

Surgiu principalmente com os documentários antigos de canais como Discovery Channel e National Geografic, época, os únicos meios que se ouvia falar em alpinismo. Depois comecei a assistir os documentários da IMAX sobre a escalada do Everest. Quando eu tinha 13 anos tive a primeira oportunidade de subir o Morro do Cambirela e foi como se eu tivesse vivendo um pouco daqueles documentários que eu assistia.

2- Qual foi o primeiro desafio, quando e como foi?

Meu primeiro desafio foi o Morro do Cambirela. Na adolescência, o Cambirela parecia os Andes para mim. Fui com um grupo de amigos, meus vizinhos da casa da Praia do Sonho. Combinamos em cima da hora, em pleno mês de janeiro. Foi muito sofrimento com o calor na trilha. Vi cobra no mato pela primeira vez na vida, mas fiquei apaixonado por jornadas difíceis, de superação. Realmente eu me sentia dentro dos documentários que eu assistia na adolescência. Dali em diante comecei a procurar como chegar no topo das montanhas aqui da nossa região e, aos poucos, fui expandindo as distâncias atrás das montanhas mais famosas do Brasil.

3- Onde você já subiu?

Eu sou um montanhista de selva, de montanhas com florestas densas. Já subi várias montanhas pelo Brasil e algumas fora do país. Meus locais preferidos são as montanhas paranaenses, como o conjunto Marumbi, os picos da Serra do Itibiraquire. Mas já subi montanhas bastante conhecidas no Brasil como o Pico das Agulhas Negras,  no Parque Nacional do Itatiaia, Pico da Bandeira,  no Alto Caparaó, Pico do Marins e alguns outros na Serra da Mantiqueira, montanhas na Serra dos órgãos entre Petrópolis e Teresópolis, no Rio de Janeiro. Fora do Brasil,  um lugar que eu costumo frequentar é o Monte Roraima. Já estive algumas vezes e posso dizer que é o meu lugar favorito no mundo hoje.

4- O que é mais difícil em uma subida? 

Cada montanha tem a sua dificuldade, algumas são as horas intermináveis de subida, outras são os obstáculos, outras a exposição a riscos, mas no meu caso, na posição de guia, a maior dificuldade é saber lidar com as dificuldades e o cansaço dos membros do grupo. Montanha é um lugar que testa o psicológico das pessoas e cada uma reage a isso de maneira diferente, alguns realmente amam se desafiar, outros apesar de estarem dispostas ao desafio, acabam sendo surpreendidos, ficam desanimadas e desacreditados. Administrar a moral de um grupo no meio de uma trilha ainda é o maior desafio que eu encontro.

5- Qual é a sensação de estar no alto? Dá medo? Do frio, da solidão, de animais?

Solidão é uma das coisas que os montanhistas buscam encontrar. Nesse esporte é muito comum subir montanhas bastante isoladas completamente sozinho e digo que é muito mais difícil lidar com a solidão dentro de casa do que num pico de uma montanha. Lá eu me sinto integrado ao ambiente, agradecido pela oportunidade, eu sou uma pessoa de fé e estar sozinho no pico de uma montanha é uma oportunidade de falar comigo mesmo e com Deus. Claro, como falei, cada pico é diferente. Tem alguns que realmente te assustam pela distância, as vezes você chega no pico e fica pensando no tamanho da jornada de volta. Mas estar no pico de uma montanha isolada é uma das melhores sensações e realizações que podemos sentir.

6- Por fim, que dicas para as pessoas interessadas?

Primeira dica é contratar um guia, pois é um esporte bastante arriscado. Você não precisa subir o Everest para morrer numa montanha. Muitas pessoas sofrem acidente ou desaparecem todos os anos nas montanhas Brasileiras. O ideal é andar com quem tem experiência para conhecer os equipamentos, já que o equipamento é de extrema importância no montanhismo. Lembrando que num lugar que faz frio, até no verão, e que normalmente fica bastante isolado, ás vezes só a função para pedir um resgate pode demorar horas, o resgate propriamente dito pode levar dias. Estar bem equipado, acompanhado de alguém com conhecimento do local que você vai visitar, ter a mínima noção de biologia para saber identificar possíveis animais peçonhentos. Para começar creio que são dicas bastante importantes. Nesse esporte a experiência pode demorar para vir, mas é normal. Você aprende passando por verdadeiros perrengues.



















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