Entrevista Luís Antônio Rodrigues

Faz um ano que Floripa ganhou um negócio diferente. É a Pizza da Quebrada que é gerida por jovens de comunidades e que gera oportunidade de emprego para a galera da periferia. As pizzas têm nomes sugestivos, enaltecendo as escolas de samba da região e as comunidades. 

O convidado desta entrevista de Domingo é Luis Antônio Rodrigues, gaúcho e radicado em Floripa há cerca de 12 anos. Foi educador em projetos sociais do Padre Vilson Groh e Conselheiro Tutelar do Município de Florianópolis, função essa que exerceu por 10 anos. Há um ano, sua esposa, Maria Antônia, e os sócios Crislainne Nascimento e Valter Costa Filho, começaram a empreender e a executar o negócio. Luiz se juntou à equipe há pouco tempo, por conta de suas atividades enquanto conselheiro. Mas empreender sempre esteve em seus sonhos. Confira o bate-papo:

1 – Como é chegar a um ano de trabalho gerando oportunidades?

A receita é simples: acreditar no que se começa. A Pizza da Quebrada tem um princípio de organização do empreendimento que toca. Ele inicia, exatamente na periferia, de um grupo de jovens empobrecidos, mulheres e meninos. Nós acreditamos nisso e neste primeiro ano fomos vitoriosos. Nossa equipe poderia fazer parte da estatística de jovens negros periféricos no mundo do crime, mas a realidade é exatamente o contrário. Geramos emprego e fazemos nosso papel na sociedade.

2 – O que é o afroempreendedorismo?

É a iniciativa pela qual jovens, mulheres e homens acreditam naquilo que gere a sua potencialidade e oportunidade de negócio. Nós quando pensamos na Pizza da Quebrada, tínhamos a exata certeza daquilo que vínhamos fazendo “na vida”, não na pizzaria. Ou seja, uma oportunidade, e isso é o afroempreendedorismo, a geração de oportunidade, para os negros pensarem organizadamente naquilo que sempre fizeram. Historicamente, os negros sempre empreenderam. Em qualquer cidade do país, desde a sua origem, nós tivemos sempre quituteiras, lavadeiras, rendeiras, cozinheiras. Nós fomos a base, por exemplo, da saúde no Brasil, pois foi através das nossas bisas, tátaras – eram as parteiras que cuidavam da vida das pessoas, mesmo no período da escravidão. Trazendo isso para os dias de hoje, é o que estamos fazendo através do afroempreendedorismo. Por isso não há de se confundir com empreendedorismo tradicional o nosso modo de empreitar e de fazer, seja ele do ramo gastronômico, cultural, musical e qualquer outra área. É assim que nós, negros, empreendemos para disputar o mercado.

3 – O negócio ganhou visibilidade e credibilidade. A que se deve o sucesso?

Nosso negócio foi pensado exatamente para isso. Ter visibilidade e credibilidade. Isso é projeto, é planejamento, é plano de negócio. Por isso temos crédito e perspectiva de sermos uma grande empresa, não para disputar o mercado, mas porque queremos ser o melhor exemplo para a nossa sociedade negra. Além disso, investimos forte na qualidade da nossa comunicação e principalmente em nossas redes sociais. Dialogamos não só com nosso público, mas com todos eles, de forma sincera, profissional e técnica.

4 – Nos conte sobre o investimento que é feito em novos valores, como patrocínio a atletas.

A nossa filosofia é “se nós temos, nós podemos ajudar”. Dessa forma, se tivemos para construir e executar a Pizza da Quebrada temos para ajudar os nosso atletas, os nossos necessitados, os nossos meninos e meninas que sonham em ser grandes, os nossos medalhistas e os nossos campeões. É assim que investimos na nossa geração do futuro. A Pizza da Quebrada quer ser referência não somente por ser a Pizza da Quebrada, queremos ser referência no esporte, na comunidade, no afroempreendedorismo, no samba, na música, na ciência, no conhecimento e até mesmo no marketing e na comunicação - em nossas redes sociais. É isso que nós fazemos. É nos espaços de poder de representação.

5 – O samba também está inserido no contexto do Espaço da Quebrada. Qual objetivo?

Não existe quebrada sem samba. Nós nascemos dentro de uma comunidade, somos frutos dela e o que a sustenta, por acaso, também é uma escola de samba. A Copa Lord é nossa referência, a comunidade é nossa referência e o nome “Pizza da Quebrada”, indica que de fato o samba precisa estar junto com a pizzaria. O comer pizza, beber um vinho, tomar uma cerveja significa, também, sambar. Por isso que nós achamos que a alternativa de criar o “Samba da Quebrada” significa dizer que nós estamos no lugar do samba fazendo pizza, investindo e criando oportunidades e negócios no campo da culinária gastronômica. Foi nossa maior sacada quando pensamos a pizza, pensamos no lugar, na comunidade e principalmente no que ela faz. Por isso que nossas pizzas foram batizadas com os nomes das escolas de samba e também de outras comunidades de Florianópolis. Isso é o indicador que, ao comer pizza, você está lembrando da sua comunidade ou da sua escola de samba, e é essa referência dessa grande população negra e não negra que nós queremos atingir em Florianópolis.

6 – Por fim, qual a mensagem para os jovens das comunidades que pretendem empreender?

A juventude negra, a população negra, como já comentei, sempre empreendeu e isso é muito importante a gente compreender. O que nós estamos fazendo hoje é a mensagem da qual precisamos deixar para juventude negra de que é necessário planejar e organizar para empreender. Não se trata só de se ter o dinheiro para empreender. Precisa-se ter a organização para o empreendimento. Então isso faz com que a nossa juventude, independente de estar na universidade, na escola ou na comunidade ela tem a oportunidade de empreender. A nossa mensagem principal é: juventude negra, empreenda, faça o seu negócio a partir daquilo que você tem como potencial próximo de você. E a outra coisa importantíssima, empreendimento negro, o afroempreendedorismo, ele é comunitário e coletivo. Não há como ter uma iniciativa solitária achando que vai vencer sozinho. Nós sempre fomos comunitários, coletivos e é esse exemplo que a Pizza da Quebrada quer deixar. De comunidade e coletividade.












 
 
 

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