Dez melhores?

O carnavalesco, historiador e compositor Willian Tadeu fez um estudo analítico e expôs os dez sambas que podem traduzir, pra ele, a história do carnaval de Florianópolis. O material foi publicado em sua página do Facebook e a gente replica pra vocês:

DEZ SAMBAS PARA PENSAR A HISTÓRIA DAS ESCOLAS DE SAMBA DE FLORIANÓPOLIS

Quando fiz a minha listinha pessoal dos dez sambas da década passada no Rio de Janeiro, o amigo Cley Márcio sugeriu fazer o mesmo para Florianópolis. Pensei que certamente seria difícil e muito polêmico, devido à produção muito intensa das nossas parcerias nesse período. Em vez disso, resolvi pensar, durante a última semana, em 10 sambas que poderiam ajudar a contar a história das escolas de samba de Florianópolis. Não são necessariamente os melhores, mas aqueles que nos levam a aspectos importantes de diferentes épocas. Justifico na sequência.

1. Protegidos da Princesa (sem ano) - Alvorada

2. Embaixada Copa Lord 1965 - Quem vem lá?

3. Protegidos da Princesa 1979 - A visita da família imperial a Santo Amaro da Imperatriz

4. Embaixada Copa Lord 1982 - O último carijó na ilha encantada

5. Unidos da Coloninha 1985 - Na boca da noite

6. Consulado 1993 - Um sopro sul

7. Embaixada Copa Lord 2004 - Sob a luz da ponte

8. Consulado 2006 - Praça XV, onde tudo acontece

9. Protegidos da Princesa 2015 - Emoldurada pelo mar, uma história que me representa: crônica de uma cidade em transformação

10. Unidos da Coloninha 2017 - A Coloninha teve uma boa ideia - Salve todos os inventores e suas mentes brilhantes!

A lista começa com "Alvorada", um dos muitos sambas cariocas cantados pelas escolas de Florianópolis em suas primeiras décadas. Pensei também na metáfora da alvorada como significativa de nascimento, início. A letra remete também às inspirações dos desfiles em paradas militares, o que nos remete à fundação da primeira escola de samba de Florianópolis com a participação decisiva de marinheiros. Há, ainda, referência à rivalidade intensa entre Protegidos e Copa Lord - chegando, por vezes, às vias de fato - nos tempos de desfile na Praça XV.

Na sequência, "Quem vem lá?" nos leva às primeiras produções de sambas específicos para as agremiações locais, ainda sem a ideia de contar um enredo no samba. Chegamos a um exemplo dessa característica de ligação narrativa entre desfile e samba com "A visita da Família Imperial a Santo Amaro da Imperatriz", da década de 1970, quando as escolas contavam histórias nos sambas e nos demais elementos de apresentação, nas ainda com características híbridas, sem esquemas muito rígidos.

Na década de 1980, o formato de desfile narrativo e padrões que chegam pelo bombardeio midiático do carnaval carioca se consolidam. Em "O último carijó na ilha encantada", temos uma total integração entre o que é dito no samba e a organização de desfile. Assim como o samba anterior, representa a pujante produção de Camargo durante duas décadas A Coloninha surge e traz importantes transformações visuais em seu ressonante pentacampeonato, para o qual escolhi "Na boca da noite", samba popularizado por registro fonográfico do período, que valoriza a atuação das parcerias de Paulinho Carioca.

Após o crescimento e profissionalização trazidos pelas inovações administrativas e estéticas da Coloninha, o tricampeonato da Consulado representa outro marco. Apontei "Um sopro sul", do último título da série, como obra representativa. Foi muito difícil pensar o restante da década de 1990, aparentemente nublado na memória dos sambistas de Florianópolis, com anos de interrupção dos desfiles. Pensei que deixar esta lacuna temporal, como um silêncio, seria eloquente.

Na década de 2000, a retomada de vultosos investimentos estatais fortalece a mobilização das escolas de samba e a grandiosidade dos desfiles. É um período de busca por sambas considerados fáceis de cantar e de destaque para temas locais. "Sob a luz da ponte" (exemplar da importantíssima produção de Celinho e Edu Aguiar) e "Praça XV, onde tudo acontece" (da bela sequência de Adriano do Cavaco, Carlão e Josué) foram os escolhidos.

Por fim, chegamos à desafiadora década carnavalesca recém concluída. É mais difícil pensar um período em que tive atuação mais significativa. Ignorar isso não seria a solução. Apontando para o surgimento de novas parcerias e formas de disputa, bem como para dois momentos distintos dos desfiles, finalizo a lista. Entre a fartura de recursos até 2016 e a escassez a partir de 2017, dois sambas campeões. Um cantando a cidade, num olhar para o passado e para as transformações vindouras, outro cantando as invenções, num olhar para o futuro. Ambos com caminhos estéticos que buscam a inovação sem deixar de lado as raízes e características essenciais do samba.

Afinal, o que as adversidades mais ensinam às escolas de samba são a valorização de suas identidades e a necessidade de, a partir delas, encontrarem o caminho da reinvenção.




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